quarta-feira, abril 30, 2008

Civilização maldita

A revolução estaria eminente …
Se as mudanças se tornassem óbvias. Se fosse claro o estado de sobrevivência de 95% dos habitantes. Se tivessem como aperceber-se do próprio conceito de liberdade pessoal a mudar aos poucos, a tornar-se mecânico, frio e vazio. Se pudessem ver a verdadeira historia e um mundo passado diferente em que cada acto mundano tinha sentido concreto e não abstracto e insondável. Se os meios pelos quais no passado se motivou multidões não fossem hoje escravos do capital. Se as pessoas não tivessem memoria curta e saúde vacilante, intoxicados pelo estômago, pela pele, pelo ar. Se a transformação dos hábitos não fosse tão lenta que só não engana os velhos, mas esses nada podem fazer.

Como se em toda a história nunca tivesse havido liberdade fora das “leis” de homens, incapazes de lidar com o “poder” de mudar vidas que por mera formalidade lhes foi oferecido.
Torna-se fácil perceber a razão porque se arrasta a ideia de Deus, juiz e carrasco, há tantos milénios, se os homens voltassem a pensar muita coisa deixaria de ter sentido e muito seria posto em causa. Mas isso o “poder” não quer. A apatia move a máquina, com ou sem condutor talvez alguém saiba.

Precisaremos de cidadãos geneticamente modificados no futuro, ou não poderão viver neste mundo. Cidadãos de varias categorias e castas adaptados a cada função, como gado, acéfalo e obediente. Só esses poderão comer a comida geneticamente normalizada, que um dia envenenou toda a planta crescida livre da terra (sem “preço” associado), e acabou com insectos, animais e equilíbrio. Ou capazes de respirar o ar cinzento e moribundo.

O bicho homem nunca foi pensado para ter tanta influência no seu meio, era para viver em tribos pequenas, parecer em concorrência leal com outras espécies e depender da empatia dos seus semelhantes.
Se há culpa? Talvez não.
Somos vítimas da nossa própria falta de capacidade para uma consciência social tão alargada. De nos termos intoxicado com uma cultura que nos absolve continuamente a desumanidade. De só termos biologicamente como nos importar com aqueles que nos são mais próximos. De termos sido forçados a viver sem espaço pessoal, a criar tribos imaginárias e por vezes até abstractas e virtuais. E de podermo-nos sentir sozinhos até no meio das multidões adormecidas.
Nada nos preparou para isto.
Nunca nos deveríamos ter transformado na espécie dominante, egoísta, ignorante e cada vez mais vítima dos seus próprios erros.
...
Erros de alcance planetário.
Vírus eternamente insatisfeito.
Extinção ao bicho homem genérico.

hoje? e só agora me dizes?